Correspondente iG: Cristãos são alvo de preconceito

10:50 05/12

Nahum Sirotsky, correspondente iG em Israel (nahumsirotsky@ig.com.br)

Uma nota rápida diz que a Igreja está preocupada com o preconceito. Cristãos também já sofrem ataques dos extremistas. É verdade, mas pouco se fala do assunto. Tudo parte do contexto que surge da “guerra ao terrorismo”.

Em junho passado as Nações Unidas promoveram um debate em Nova York sobre o recrudescimento do anti-semitismo e o que se pode fazer para neutralizá-lo. Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, foi um dos oradores. No próximo dia 7, ainda em Nova York, na magnífica sede da ONU, será a vez do debate sobre o preconceito anti-muçulmano. Um dia desses vai chegar a vez dos cristãos.

O preconceito é uma doença gravíssima e de rápido contágio. Antiga e conhecida na história do mundo. Nunca se chegou a uma cura. Com todas as suas técnicas os psicanalistas não apontam caminhos. Há preconceitos contra tudo.

O preconceito contra os judeus é anterior ao cristianismo. A expressão anti-semitismo foi criada por um jornalista alemão no século 19, só contra os judeus. Curiosamente, semitas também são os árabes. E eles mesmos são os primeiros a reclamarem tal ascendência. Seriam descendentes de Agar, a escrava de Sara que a designou barriga de aluguel para que seu marido pudesse ser pai. Ela era estéril e já passara a idade de engravidar. O Velho Testamento conta que Deus teve pena dela e a fez engravidar de Itzhak. Sara forçou Abrão a expulsá-la. E Deus também teve pena dela e a transformou na mãe de povo numeroso. Os árabes se dizem ismaelitas de Ismael, nome do filho de Agar. “Primos”, judeus e árabes.

Existem teorias que apontam as visões de Abrão como origem do anti-semitismo. Ele é o primeiro homem a se comunicar com Elohim e descobrir a unidade, a existência de um só criador de tudo, de um só Deus. Confundiu os povos, pois cada indivíduo tinha a sua própria divindade. E, pior, Abrão convence a sua gente de que ão se pode fazer imagem de quem não tem forma. Tinham que adorar um ser abstrato, uma idéia a qual atribuíam todos os poderes. A gente de Abrão ganhou seguidores e inimigos em seus deslocamentos.

O seu neto Jacó teria 12 filhos que assumiriam o judaísmo no Sinai, quando Moisés lhes trouxe as Leis, revelou que eram o povo escolhido, os sacerdotes da Lei, e deviam viver na Terra escolhida, Canaã. Ao contrário dos filhos de Agar que nunca chegaram numericamente a serem um povo grande. Mas há quem diga que são um grande povo, hoje de 14 milhões dos quais menos de metade está em Israel. Nunca deixaram de ser alvos do preconceito cujas justificativas variam.

Abrão deu o monoteísmo do qual surgiram o cristianismo e o Islã.

Há dias, um ex-rabino chefe de Israel, cargo burocrático com as funções de cuidar de aspectos da lei civil como casamento e herança, profetizou o fim do judaísmo na Europa onde nos anos de II Guerra Mundial seis milhões foram mortos na “solução final”, a matança ordenada e executada pelos nazistas. Hitler queria uma Europa ariana, pura. Os arianos, ignorante que era Hitler, são um povo moreno cuja pátria é o Irã ou terra dos arianos. O anti-semitismo volta a Europa democrática. É a doença que independe de ideologias e não tem vacina nem cura até agora.

Mas existe outro, que se aprofunda e generaliza. O anti-tudo-que-pareça-muçulmano-pelo-nome-ou-fisionomia. O Islã acredita em um só Deus, Alá. É sobre este anti-semitismo que vão debater na sede da ONU. São um bilhão e meio de cidadãos muçulmanos que hoje vivem sob suspeita devido ao predomínio dos seus nos movimentos terroristas. Há mais de 20 milhões na Europa. Milhões outros na Rússia.

O que pretendem as organizações muçulmanas extremistas? Até agora não explicitaram seus objetivos. Bin Laden, o criador e líder das Al-Qaeda, diz que é arruinar os Estados Unidos e acabar com Israel. Para outros é levar a mensagem de Alá ao mundo. Não se identificam aqueles que agridem o cristianismo. Ainda não.

Henry Kissinger, o ex-secretário de Estado americano, que tudo o que escreve e diz é refletido e considerado devido a seus imensos conhecimentos e intuição, parece acreditar que se vive apenas uma fase que a solução concreta de uns poucos problemas poderá encerrar. Ele considera que se as eleições de janeiro no Iraque resultarem em governo legitimado pela vontade do povo, haverá maior apoio árabe para uma solução possível da questão israelense-palestina. Os atuais líderes dos paises árabes sentirão que poderão correr o risco de contribuírem para uma solução do conflito israelense-palestino com aceitação do Estado de Israel.

Kissinger defende que o ” roadmap” tem de mudar. Tem que deixar de ser um roteiro de negociações para ser um roteiro de adoção de soluções concretas que seriam sugeridas pelos mediadores. O quarteto (Estados Unidos, Rússia, Nações Unidas e União Européia) obteria o apoio deles que cooperariam em guiar as partes na implementação dos passos viáveis.

Mubarak, o presidente egípcio, acha que Sharon, o linha dura de Israel, é quem pode fazer a paz. Até parece que chegou a hora: todos dizem que querem conversar. Mas o homem da ONU no Iraque acaba de declarar que do jeito que está não pode haver eleição. “Irak is a mess””- O Iraque é uma bagunça, diz ele, um neutro.

E sem a solução dessas questões o fundamentalismo só ganhará adeptos e suspeitas do mundo cristão com os muçulmanos. Conflitos como agora, ou piores. Mas não se diz que não terão solução eventualmente. O mundo árabe poderá se estabilizar e aquietar. Existe o potencial.

Mas a dúvida que persiste é aquela da questão mais antiga. Será que o rabino israelense, sobrevivente dos campos de concentração de Hitler, tem razão? Não tem fim para o anti-semitismo?

Autor: Correspondente iG

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