Divergência adia decisão de Assembléia de Deus sobre Lula e Serra

FABIANA FUTEMA
da Folha Online

A Assembléia de Deus, maior igreja evangélica do país, com 18 milhões de fiéis no país, começou a discutir às 10h de hoje a definição de seu apoio para o segundo turno das eleições presidenciais de 2002. Mas a falta de consenso sobre os nomes dos candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e do PSDB, José Serra, deve estender a reunião noite adentro.

Segundo o secretário da Comissão Política Nacional da Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil, Geremias do Couto, a previsão mais otimista é que a definição sobre o apoio da igreja para o segundo turno seja divulgado depois das 22h. “Se a decisão não sair hoje, o que acho difícil, será anunciada amanhã de manhã.”

Couto disse que a demora para tomada de uma decisão está em linha com a responsabilidade política da Assembléia de Deus com o futuro do país. “Não seremos açodados. Nosso apoio não é só para marcar posição na mídia. A decisão de apoiar um ou outro candidato passa pela análise das propostas de cada um deles.”

Sem dizer qual dos dois presidenciáveis conta com a preferência da Assembléia de Deus, Couto afirmou que a única certeza dentro da igreja é que haverá um posicionamento para o segundo turno. “Não ficaremos neutros. Isso é certo. Vamos decidir ainda se apoiaremos Lula ou Serra. Neutros é que não ficaremos.”

O processo de discussão do apoio político da Assembléia de Deus para o segundo turno passou por três fases. Na primeira, ocorrida na sexta-feira, houve uma reunião entre os membros da mesa diretora da igreja. Ontem, a comissão política da Assembléia de Deus se reuniu para discutir o mesmo assunto. Hoje, a comissão política dedicou o dia a ouvir o posicionamento dos parlamentares eleitos da Assembléia de Deus sobre o apoio para o segundo turno.

“Depois de ouvirmos os três lados, entraremos agora numa quarta e definitiva reunião, que definirá nosso apoio político para o segundo turno, já que nosso candidato [Anthony Garotinho, do PSB] ficou de fora da disputa pelo segundo turno”, disse Couto.

O presidente da Comissão Política Nacional da Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil, Ronaldo Fonseca, disse que somente uma parte da igreja definiu sua posição até agora.

“As pessoas precisam saber que a Assembléia de Deus é dividida em dois ministérios: Missão e Madureira. Foi o Ministério Madureira que declarou apoio a José Serra na semana passada. Esse ministério representa apenas 30% da Assembléia de Deus”, disse.

Apesar de afirmar que a Assembléia de Deus ainda não escolheu o seu candidato, Fonseca admite que Serra tem mais chances do que o petista Luiz Inácio Lula da Silva de que receber o apoio político da igreja. “Serra demonstrou mais interesse do que Lula em ter nosso apoio. Serra nos procurou pessoalmente e Lula, por enquanto, só mandou assessores para conversar conosco.”

Para piorar, Lula ainda encontra resistências históricas dentro da Assembléia de Deus. O principal problema do petista é a lei de autoria da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), que estabelece a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo. A lei, que tramita no Congresso, já recebeu o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Segundo Fonseca, a Assembléia de Deus não apoiará o candidato que for favorável a essa lei, por exemplo. No caso de decidir por apoiar Lula, pertencente ao mesmo partido de Marta Suplicy, a igreja não exigirá que o petista suba no palanque e diga que vetará a lei.

“Só queremos que ele, como presidente, defenda a união entre homossexuais. A decisão terá de ser tomada pelo Congresso.”

Fundada em 1911, a Assembléia de Deus tem cerca de 200 mil templos e 25 mil pastores. Estima-se que hoje no Brasil existam entre 25 milhões a 30 milhões de evangélicos.

Campanha
Lula receberá amanhã o apoio de várias igrejas evangélicas do país num ato que será realizado no Rio. O evento está sendo organizado pelo deputado bispo Rodrigues, coordenador político da Igreja Universal do Reino de Deus.

Na semana passada, o comitê evangélico da campanha eleitoral de Lula definiu um calendário de trabalho para o segundo turno. Além do evento de amanhã, foi definido o lançamento de uma carta assinada por parlamentares e lideranças evangélicas em apoio à candidatura de Lula.

Participaram do encontro o bispo Rodrigues, o deputado federal e senador eleito Magno Malta (ES), a senadora Marina Silva (AC), o bispo Robson Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra. O comitê evangélico da campanha de Lula também vai pedir o apoio dos pastores Samuel Câmara e José Wellington, líderes de duas vertentes da Igreja Assembléia de Deus e do apóstolo Estevão, da Igreja Renascer.

Autor: Folha Online

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