Ex-governador reúne-se com os principais líderes evangélicos, pedindo votos para Lula e que os pastores pró-tucano não anunciem seu voto ou fiquem neutros no segundo turno
No dia seguinte à adesão da Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil à candidatura de José Serra (PSDB), o candidato derrotado Anthony Garotinho (PSB) reuniu os principais líderes evangélicos do País para tentar evitar que anunciassem apoio ao tucano.
Garotinho, que é presbiteriano e está com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), encontrou a maior parte dos 23 pastores e bispos, representantes de seis igrejas, disposta a apoiar Serra. Em duas horas de conversa, convenceu-os a não declarar, pelo menos por enquanto, sua posição para o segundo turno. E tentou convencer alguns líderes a pedir votos para Lula. Aos mais resistentes, pediu neutralidade. Houve quem insistisse no apoio a Serra e, a estes, Garotinho pediu que fossem discretos.
Todos os presentes apoiaram o candidato do PSB no primeiro turno. “Seguramos a debandada para o Serra. Alguns vão apoiar Lula, outros estarão neutros e os que forem Serra não vão ser tanto assim”, comemorou Garotinho após a reunião, em almoço com os evangélicos. Na reunião fechada, o ex-governador do Rio disse aos pastores e bispos: “Vocês não podem sair daqui anunciando apoio a Serra. Vão me desmoralizar.”
A operação deflagrada por Garotinho teve objetivo de minimizar adesão de parte da Assembléia de Deus a Serra e evitar disseminar na opinião pública a impressão de que os evangélicos estão com o tucano.
Pastor diz que no País há 40 milhões de evangélicos
Segundo cálculos de um dos mais importantes articuladores da candidatura de Garotinho, o pastor Silas Malafaia, os líderes presentes no almoço representavam igrejas que reúnem 30 milhões dos 40 milhões de evangélicos do País. Malafaia contesta os números do IBGE que aponta a existência de 26,1 milhões de evangélicos no Brasil.
Malafaia é da Assembléia de Deus, mas não pertence à Convenção Nacional, que aderiu a Serra, mas à Convenção Geral das Assembléias de Deus, congregação ainda sem posição definida. Garotinho teve 15 milhões de votos, a grande maioria de eleitores evangélicos. Estavam na reunião representantes das igrejas Universal do Reino de Deus (que já anunciou apoio a Lula), Evangelho Quadrangular, Sara Nossa Terra, Assembléia de Deus (parte aliada à Convenção Geral), Batista e Presbiteriana.
Malafaia foi escolhido para falar em nome do grupo. “Os evangélicos não têm unanimidade de marchar nem com Lula nem com Serra. Nossa unanimidade chama-se Garotinho. Quem falar que os evangélicos estão com Lula ou Serra não tem o respaldo dos ministros evangélicos do País”, disse Silas, que preside o Conselho Interdenominacional dos Ministros Evangélicos.
Num ponto, porém, os líderes religiosos foram unânimes: críticas a Serra e Lula por terem posições frontalmente contrárias às igrejas, como aceitação da união civil entre pessoas do mesmo sexo e do aborto, mesmo nos casos previstos em lei (estupro e risco de vida para a mãe). Malafaia admitiu que os dois candidatos têm problemas. “Se o cara abrir a boca para dizer que é a favor de união civil de homosexuais, a favor de aborto, lá na base vai sofrer. Sei porque conheço a cabeça dos evangélicos. Também estamos preocupados com salário, desemprego. A questão não é se vai fechar igreja ou abrir igreja, o eixo mudou, Garotinho despertou essa consciência social”, afirmou.
Garotinho disse que se ofereceu para trabalhar como intermediário de Lula junto aos evangélicos para “quebrar resistências” e “animar” os líderes religiosos.
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Autor: politica@jt.com.br