Guardando-nos da Avareza

Era o moço o retrato fiel do pai, tanto no físico como na bondade.
Depois de formado engenheiro agrônomo, ficou definitivamente na fazenda.
A mâe era o símbolo da ganância e da avareza. Assim a dedicação do filho, em relação à gente pobre que os servia, envenenava o coração e a alma da infeliz usurária!
Ora, havia um cego que, atraído pela bondade do moço, seguidamente o procurava; com ele tomava algumas refeições e até pernoitava na fazenda algumas noites, acompanhado do seu pequeno guia.
O cego ignorava a espécie de mãe irascível e sovina que o bondoso jovem possuía.
Havendo o moço viajado para entregar alguns animais que vendera, passou vários dias fora da fazenda. Efetuadas, entretanto, as transações, ei-lo pronto para o retorno.

Vinha contente, na companhia de alguns dos empregados. O sol estava quente, quase abrasador. Enquanto isso, o cego e seu guia chegavam à fazenda.
Cansados da caminhada, desejaram o frescor da grande varanda; porém, mal sabiam da decepção que os aguardava e que uma enorme desgraça desabaria em poucas horas… Com o semblante carregado, a mulher aproximou-se deles, indagando secamente:
– Deseja alguma coisa? – e ouvindo perguntar pelo filho, respondeu logo: – Ele viajou. Com certeza o senhor está com fome e sede. Espere um pouco.
Tomou um pão inteiro e, abrindo uma garrafa de vinho, adicionou alguma coisa dentro. Voltou de novo à varanda e entregando tudo disse ao cego:
– Tome este pão e o vinho fresquinho; mas é melhor ir lanchar à sombra da paineira. Lá o vento corre desimpedido…. A desalmada usurária havia colocado forte dose de arsênico no vinho.
Mas o ingênuo cego e seu guia, suarentos e fatigados, deitaram sobre a relva antes de comer. Súbito, um tropel os alertou. Era o moço que chegava e vendo o cego deitado sob a sombra da paineira, apeou e foi dizendo:
– Amigo, estou mais morto do que vivo! Não aguento nem chegar a casa. Tem aí alguma coisa que se possa beber? Estou seco de sede…
– Água não temos, mas ganhei de sua mâe uma garrafa de vinho fresquinho…
– Então me dê uns goles pra molhar minha garganta! – acrescentou o moço.

Saiu andando em direção à casa e sorvendo rápidos goles de vinho. A mãe, que já o havia visto ao longe, veio ao seu encontro, mas não pôde falar-lhe porque o infeliz jovem caiu fulminado aos seus pés.
Desvairada pelo desespero de haver praticado indiretamente o mais hediondo crime contra o próprio filho, pela maldade de querer eliminar a vida do pobre cego, ela se pôs a gritar… Era tarde demais!
A sua avareza levou o filho para a sepultura e ela para uma fria e escura cela da prisão.

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn
[adinserter block="4"]

Sumário

[adinserter block="5"]

Artigos Relacionados