Entre as montanhas escondia-se um pequeno povoado, onde vivia um aglomerado de pessoas presas
às suas tradições.
Viviam da extração do ferro. De repente, a cidade se viu invadida por pessoas estranhas,
que chegaram amontoadas numa
terceira classe de navio. Eram estrangeiros e enfrentaram
uma má vontade geral contra eles. Mas os donos das minas,
carecendo de mão-de-obra especializada, os contrataram.
Todavia, viviam à parte, desde o adulto até a criança.
Ninguém lhes dirigia palavra e nem os visitava. Houve entre
os garotos um concurso de papagaios (pipas), e quando um
garoto estrangeiro quis orientar três colegas de classe,
chegaram outros meninos e, ao vê-lo mostrando falhas graves
no acabamento, um deles falou:
– Não se misture com a gente, ouviu, gringuinho? Procure sua
turma…
Na escola, os professores procuravam ser imparciais, mas os
colegas faziam questão de colocá-los às margens. No Dia da
Criança, o pessoal miúdo realizaria um piquenique na cidade
miniatura, que ficava no alto da serra. Não pagariam nada.
Tudo seria oferecido pela prefeitura. Entretanto, os meninos
estrangeiros não foram convidados a participarem.
Três ônibus conduziram a criançada. O dia estava quente.
Volume de nuvens! Escureceu, fechou-se o céu. Um teto baixo
perigoso… Só dois ônibus conseguiram retornar porque uma
forte tromba-dágua caiu sobre a cidade mirim e o terceiro
ônibus cheio de crianças ficou isolado na serra. Entre os
estrangeiros havia alpinistas que se ofereceram para ajudar,
e o prefeito, embora envergonhado pelo seu gesto
preconceituoso, não recusou. E lá se foram eles, carregando
seus equipamentos. Untando os rostos para evitar rachaduras
pelo calor do sol e pelo vento, começaram a difícil
escalada. Finalmente, chegaram ao alto da serra e
encontraram o ônibus com as crianças aflitas e seus
monitores nervosos. Planejaram a volta por outro caminho
mais longo, porém, mais seguro. Os estrangeiros comandaram
sabiamente toda a operação de regresso e as crianças
chegaram felizes, lançando-se sobre os pais que os esperavam
tensos e aflitos. A partir dessa experiência, naquele
povoado deu-se o início de uma vida nova para todos. Agora
deixou de haver ali os estrangeiros tão relegados, porque
todos se tornaram irmãos, amigos e um só povo. Ninguém mais
os humilhava, mas, sim, os respeitava, sensibilizados pela
grandiosidade de espírito que revelaram.