Apesar do seu parentesco com o gato, a onça vivia à procura de uma boa oportunidade para comê-lo; só que não queria fazer a coisa friamente.
Assim, decidiu procurá-lo, solicitanto lições sobre pulos mais ágeis, rápidos e mais certeiros.
O gato, desconfiado, procurou desculpar-se, alegando não ter tempo disponível para aulas particulares, que muitas vezes se prolongam demasiadamente.
A onça, mostrando-se sensível, foi dizendo:
– Olha, se teme qualquer armadilha contra você, esqueça. Eu seria incapaz de tamanha baixeza.
Pensa que um animal tão pequeno satisfaria meu apetite? Quando sinto fome, preciso é de muita carne mesmo…
Ressabiado e cauteloso, o gato deu início às lições, sempre imitado pela aluna que, atenta, procurava assimilar todos os manejos com singular facilidade. Certa de haver já conquistado a confiança do mestre, falou:
– Importa-se de, agora, apenas analisar o meu aproveitamento?
O gato, esperto e prevenido, aceitou a proposta, mas se colocou em um lugar estratégico, enquanto a aluna ia mostrando total domínio na arte; em certo momento, ela deu um pulo sobre o mestre, tentando liquidá-lo de uma vez.
Entretanto, o gato, já de prontidão, pois que não estava desatento às intenções da onça, deu de improviso um pulo inédito, que a aluna desconhecia por completo e com o qual não podia contar a tempo.
Desapontada com a falha nos planos tão bem alinhavados, ela tentou disfarçar o engano e,
com toda a doçura que conseguiu tirar de sua boca amarga, argumentou entre espanto e admiração:
– Esse pulo você deixou fora do seu programa de ensino. Transmita-o agora porque faço questão absoluta de aprender tudo o que você executa com tanta destreza, para que eu possa vencer meus inimigos.
– Dileta aluna – respondeu o gato – sua armadilha foi fráca e ingênua para me agarrar.
Eu não seria tolo ao ponto de não reservar essa arma através da qual me livrei das suas garras- um pulo raro só ensinado aos filhos.
E assim dizendo, o gato desapareceu num outro salto de mestre, deixando ali parada, e ainda mais recalcada, a onça, que viu cair por terra o sonho de um manjar ao gato fresco.
Não lhe foi nada fácil aceitar o fracasso da sua astúcia tão temida pela maioria dos animais da floresta.
Toque no Altar – “Deus do Impossível” | Letra e vídeo
Quando tudo diz que não Sua voz me encoraja a prosseguir Quando tudo diz que não Ou parece que o mar não vai se abrir