Eram 21h30min de uma Sexta-feira, e vários vôos estavam por sair no aeroporto de Guarulhos. Última chamada ao microfone e nada de os passageiros entrarem na fila. “Por favor” – insistia a voz no alto-falante. “Só depois da novela” – justificou um passageiro. Aí começou o coro: “só depois da novela, só depois da novela”. Sem outra alternativa os funcionários tiveram que aguardar. E assim só depois das cenas do assassinato de Lineu que os passageiros embarcaram.
Este poder das novelas em seduzir meio mundo de gente não é brincadeira. Ele não atrasa apenas vôos, mas a própria vida das pessoas. Não que seja errado olhar novela, mas o problema está nesta loucura de “vida de gado, povo marcado, povo infeliz” – cantada numa música. E isto não é coisa só de novela. Acontece na política, na religião, no esporte, na moda e por aí afora. Sem a gente perceber, perde-se o controle de si mesmo, e numa histeria coletiva se faz o que alguém ou um grupo manda fazer. E nestas horas de manipulação coletiva não tem nada e ninguém que segura.
Na verdade todos somos vítimas deste poder de influência e cabe sempre a pergunta: o que estou fazendo é por livre e espontânea vontade? Ou estou sendo influenciado, manipulado, coagido, seguindo a tropa sem saber porque? Um exemplo é a própria novela, porque ela impõe moda, comportamento, valores, critérios etc. E como isto é perigoso quando um autor como este de Celebridade pode fazer do sexo um produto de consumo igual a um refrigerante que se toma quando se tem sede, não importando com quem, como, onde ou por quê. Seria justo que os donos destes meios de comunicação, diretores e autores, fossem responsabilizados por toda esta desgraça familiar e social, assim como certas empresas obrigadas a indenizar pessoas doentes, vítimas do cigarro e de outras drogas.
Quando a Bíblia diz que “há caminhos que parecem certos, mas podem acabar levando para a morte” (Provérbios 14.12), alertou isto num tempo em que o poder da influência era menor. No entanto, não faltam exemplos no livro sagrado de pessoas e grupos que deixaram-se manipular. Num caso específico contra a idolatria e imoralidade, o apóstolo lembra um episódio na história do povo de Israel que foi castigado por Deus, afirmando que “tudo isto aconteceu … como exemplo … e foi escrito como aviso para nós” (1 Coríntios 10.11). Fora da Bíblia é só ler (e agora assistir na televisão) inúmeras histórias de povos inteiros que cegamente obedeceram líderes e doutrinas e depois caíram na desgraça. Hitler, Saddam, Bin Laden, e por que não citar Collor, Bush, e outros. Por isto, todo cuidado é pouco quando se aperta o botão naquele controle, porque neste momento em diante podemos estar sob o controle de alguém muito mal intencionado ou informado, seja um político, um pastor, um artista, um diretor de novela…
“Cuidado com o fermento dos fariseus”, recomendou Jesus aos discípulos dele, quando o evangelista descreve que “milhares de pessoas se ajuntaram, de tal maneira que pisavam umas as outras” (Lucas 12.1). “Como é que essa pessoa convenceu vocês”, também alertou Paulo aos cristãos da Galáxia, concluindo que “quem fez isso não foi Deus, que os chamou. Como dizem: um pouco de fermento fermenta toda a massa” (Gálatas 5.7,8). Em outra carta disse o mesmo apóstolo que “virá o tempo em que as pessoas … juntarão para si mesmas muitos mestres, que vão dizer a elas o que querem ouvir” (2 Timóteo 4.3,4).
Pensando bem, seja na frente da televisão, de um palanque político ou de um púlpito de igreja, ninguém é enganado quando não deseja ser. O problema é que os mestres da manipulação dizem o que as pessoas querem ouvir (2 Timóteo 4.3), conhecendo as fraquezas delas como ninguém. Assim, cada povo tem o governo (ou o controle) que merece.
Por isto, mais do que nunca vale para nós o recado conforme toda carta ao Gálatas, especialmente aquele que diz: “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livre. Por isso, continuem firmes nessa liberdade e não se tornem novamente escravos” (Gálatas 5.1).
Autor: Pastor Marcos Schmidt (marsch@terra.com.br)