Há um pensamento que diz que uma imagem vale mais que mil palavras. Como isso é verdadeiro. Muitas vezes ouvimos uma notícia no rádio. Tentamos criar uma imagem em nossa mente a partir da descrição que o locutor faz. Mas só quando vemos a imagem na TV ou no jornal é que tomamos consciência do que realmente aconteceu. Estas imagens valem mais que milhares de palavras.
Atualmente, as companhias de seguro pedem que sejam anexadas fotografias de acidentes com carros a fim de que seja pago o valor do seguro. A fotografia fala melhor do que um desenho ou uma descrição em palavras.
As empresas, e também igrejas, tem logotipos, imagens que contam algo a respeito da organização que representam. Nosso Brasil também tem um logotipo, a Bandeira Nacional. Nela nós temos um retângulo verde – representando nossas matas, hoje já muito devastadas; um losango amarelo – representando nossas riquezas minerais; um círculo azul – lembrando o nosso céu; 25 estrelas – representando cada um dos estados da confederação; e as palavras Ordem e Progresso – representando como e o que queremos. A bandeira fala muito de nosso país.
As igrejas Luteranas também têm seus símbolos. A IELB e a IECLB também têm os seus.
Mas existe um símbolo, um logotipo que é comum a todas as igrejas luteranas do mundo. Normalmente esta logomarca está em edifícios, igrejas, livros, materiais impressos e outros. Estou falando da Rosa de Lutero. Lutero criou este logotipo como um resumo de sua fé. Mas não apenas da fé de Lutero, mas da fé de todos os cristãos. Assim, a Rosa de Lutero é um quadro da fé cristã. Até poderíamos dizer que é um belo sermão em forma de quadro. Uma vez que hoje celebramos a Reforma, é justo que olhemos para este quadro que vale mais que mil palavras e descreve nossa fé. Vamos conhece-lo um pouco melhor.
No centro da Rosa de Lutero está uma cruz. A cruz de Jesus é o centro da fé cristã. Sem a cruz não existe cristianismo. Esta cruz é de cor preta. Preto, segundo os físicos, é a ausência de cor e a cor é uma conseqüência da luz. O pecado nos afasta da luz de Deus. Por isso convencionou-se que preto é a cor do pecado – a escuridão em nossos corações e no mundo, que nos causam tanta dor e sofrimento. O Evangelho de João nos diz que as pessoas preferiram a escuridão porque fazem o que é mau (Jo 3.19). O preto lembra a nossa pecaminosidade: todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus (Rm 3.23). Preto é também a cor do luto, da morte – e o pecado conduz à morte, física e eterna.
Quando Lutero era um jovem estudante, quase morreu e o pensamento da morte o assustou. Ele não estava pronto para estar diante de Deus, o Juiz eterno. Por isso, ele deixou todos os seus amigos, seu trabalho, família e riqueza e procurou um meio de se livrar dos pecados e estar “de bem” com Deus. Entrou para um mosteiro e rezou, e jejuou, e estudou constantemente. Mas ainda assim seu coração não sentia paz com Deus. Ele sempre sentia-se muito pecador e tinha pavor da idéia de ser chamado diante de Deus. Ele nunca tinha certeza de que iria para o céu. Assim, rezou mais, estudou mais, jejuou mais.
Mas quanto mais estudava, quanto mais pedia e questionava, mais dúvidas tinha de que merecia estar no reino celestial. Os seus pecados e o juízo de Deus o apavoravam.
Felizmente, Lutero estava estudando a carta de Paulo aos Romanos e então teve uma nova perspectiva do texto de Rm 1.17: O justo viverá por fé! Ou, conforme a BLH: Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus. Ele percebeu que uma pessoa não pode ser considerada justa apenas por tentar impressionar Deus. A salvação é um presente de fé em Deus – fé que crê e confia no que Jesus fez por todos os pecadores. A salvação está disponível, ao alcance de todos.
Esta era a resposta que Lutero estava procurando e pela qual orava. Ela era sensacional. Você não pode ser salvo sem Jesus Cristo. Você só pode ir ao céu pela passagem da cruz. Nosso pecado é tão grande que penetra e se infiltra por toda parte, inclusive no que dizemos, fazemos ou pensamos. Para nós é impossível estar longe do pecado por um instante, assim como é impossível que nos salvemos, nos dediquemos ou nos demos a Deus. Sem a intervenção de Deus, pela cruz, nós não teríamos nenhuma esperança.
Assim, no centro da Rosa de Lutero está a cruz. A cruz é o sinal de que somos aceitos por Deus, que temos o seu perdão e graça. Sim, nós somos pecadores, mas Deus, pela sua graça e sem exigir nada, nos aceita por meio de Cristo Jesus, que nos salva (Rm 3.24). Pela fé em Cristo todos os nossos pecados são perdoados, nós somos aceitos por Deus e recebemos de Deus as boas vindas ao Reino Celestial.
Na Rosa de Lutero, a cruz é colocada sobre um coração vermelho. Embora a cruz seja preta – simbolizando o pecado, a morte e a vergonha enfrentados pelo Filho de Deus em nosso lugar – o coração é vermelho, porque é um coração vivo, vivente. O Evangelho de perdão nos dá vida. Nós fomos salvos, nos foi dada vida como filhos de Deus, recriados, renascidos, capacitados com um novo coração que nos dá condições de viver como Deus quer que vivamos.
O coração é um símbolo do amor. Não só do amor que Deus demonstrou ao enviar seu Filho, mas também do amor que flui por nós. Nós fomos renovados para amar a Deus com todo o nosso coração e força, mas também a amar ao nosso próximo como a nós mesmos. O coração vermelho nos lembra que, uma vez que somos filhos de Deus pela morte de Cristo na cruz, vivemos uma nova vida. Como povo de Deus, deveríamos ficar longe de tudo o que é mau e pecador e permitir que o amor de Deus seja claramente identificado em tudo o que dizemos e fazemos. Paulo nos lembra que vocês são o povo de Deus. Ele os amou e os escolheu para si mesmo. Portanto, vocês precisam se vestir com a misericórdia, a bondade, a humildade, a delicadeza e a paciência. Suportem uns aos outros e também perdoem uns aos outros, se algum de vocês têm alguma queixa contra alguém. Que cada um perdoe o outro, do mesmo modo que o Senhor perdoou vocês. E, acima de tudo isso, tenham amor, pois o amor une perfeitamente todas as coisas (Cl 3.12-14).
Um coração cheio de amor é um coração ocupado, ativo. Não há lugar para desânimo ou preguiça. Ninguém recebe a graça de Deus para si mesmo. Ninguém recebe os dons de Deus apenas para uso próprio. Eles nos são concedidos para que sirvamos aos outros.
O coração vermelho está descansando sobre uma rosa branca. A rosa branca está ligada com a vinda do Messias. A rosa é uma flor que indica alegria em meio aos espinhos da vida.
Assim, o coração vermelho – a vida cristã – descansa na rosa branca. Não é fácil ser cristão, um seguidor de Jesus em nossos tempos. É muito fácil ser desviado da fé. É muito fácil seguirmos a multidão. É muito fácil nos esquecemos que fomos chamados por Deus para sermos sua família, seu povo, e fazermos o trabalho que é Dele. Nós falhamos com freqüência, e temos que confessar que não fizemos o que Deus queria que fizéssemos. Isso é parte do mundo espinhoso em que vivemos.
Mas nós, cristãos, experimentamos a alegria das Boas Notícias do Evangelho, a alegria de sermos renovados para o serviço, restaurados pelo perdão dos pecados e novamente enviados para realizar o trabalho de Deus. Para Lutero, a rosa era um símbolo desta alegria entre os espinhos de nosso mundo.
Por causa da alegria que temos em conhecer Jesus, nosso serviço, nosso amor para com o próximo está cheio de alegria. Se nós servíssemos a Jesus por obrigação, não seria nenhum serviço. Se nós servíssemos de má vontade, murmurando, nosso serviço não valeria nada. Verdadeiro serviço, verdadeiro culto, verdadeiro cristianismo reflete a alegria que temos em Cristo.
Alegria por termos um Salvador que nos ama! Alegria por saber que nossos pecados estão perdoados! Alegria por saber que Jesus nos dá a vida eterna. Alegria por sermos chamados discípulos de Jesus para vivermos em amor e na certeza da vida eterna!
Tudo o que sabemos sobre Jesus abastece nossos corações com alegria. Como Paulo disse aos Filipenses (Fp 4.4): Alegrem-se sempre no Senhor. Outra vez lhes digo: alegrem-se!
A rosa branca repousa sobre um fundo azul celeste. Este fundo nos recorda da promessa da vida eterna que temos por Jesus Cristo. Cristo ressuscitou e nós também vamos compartilhar da felicidade e da alegria divina e, por isso, olhamos adiante, para aquele dia em que estaremos no céu junto ao nosso Senhor e com todos os fiéis que morreram antes de nós. Pode ser que nesta vida sejamos perseguidos por causa de nossa fé. Pode ser que soframos alguma tragédia, uma doença grave, fiquemos incapazes ou percamos a habilidade de pensar claramente por causa da nossa idade. Mas há uma coisa que nunca muda e nem se deteriora. Nós olhamos adiante e nos vemos entrando no céu quando esta vida terminar.
O fundo azul celeste nos recorda que nossa vida aqui neste mundo é por pouco tempo. Nós hoje estamos aqui, mas logo falecemos – não em desespero ou tristeza – mas na alegria da vida eterna.
Ao redor de toda o logotipo criado por Lutero há um anel de ouro. Tal como um anel que não tem fim, a alegria celestial não terá fim, será eterna. O anel é de ouro, um dos metais mais preciosos, indicando assim que a promessa da vida eterna é o que existe de mais preciso. De fato, podemos dizer que tudo o que está relacionado com nossa fé é igual ao ouro preciso, e nós estimamos isso mais do que qualquer outra coisa em todo o mundo.
Assim temos a Rosa de Lutero – uma imagem que resume a fé cristã. É um símbolo da fé e é tão verdadeiro e pertinente hoje como era no tempo de Lutero.
Este logotipo luterano não apenas nos dá uma compreensão da nossa fé, mas nos pergunta em desafio:
Jesus ocupa o centro de nossas vidas? Ou Ele está em algum lugar ao redor, nas extremidades?
Nós prontamente cremos que Jesus limpou a sujeita de todos os nossos pecados e nos agarramos a esta certeza?
Estamos prontos a abandonar nossos pecados prediletos e viver obedientemente, como alguém que pertence a Deus?
Estamos dispostos a, humildemente, servir Cristo pelo servir uns aos outros?
Estamos dispostos a compartilhar a alegria do Evangelho com outras pessoas?
Nosso relacionamento com o Salvador é forte, profunda, ou é algo casual para o final de semana?
Temos a confiança de, ao morrer, irmos para o céu? Ou duvidamos, porque pensamos que não somos suficientemente bons?
Como deixamos que o amor de Cristo transpareça em todas as nossas amizades, trabalhos, palavras e pensamentos?
Vamos olhar novamente para a Rosa de Lutero e ver que Jesus, o amor de Deus, um coração renovado e cristão, pronto para servir, é o centro de tudo o que fazemos, pessoalmente e como Igreja. Confessemos este Cristo! Creiamos no amor de Deus por nós! Vivamos a nova vida que Deus nos deu em Cristo! Amém.
A Rosa de Lutero
A Rosa de Lutero (também conhecida como Selo ou Brasão de Lutero) é o símbolo mais conhecido do Luteranismo. Ele sintetiza a fé cristã de uma forma simples e completa. O próprio reformador Martinho Lutero supervisionou a sua criação. Ele explicou o seu significado da seguinte:
“Graça e paz por parte do Senhor. Como você deseja saber se o selo pintado, que você me enviou, acertou o alvo, devo responder de forma amigável e lhe dizer sobre meus pensamentos e razões originais porque meu selo é um símbolo da minha teologia.
Primeiro, deve haver uma cruz preta dentro de um coração – o qual retém a sua cor natural – para que eu seja lembrado que a fé no Crucificado nos salva. Pois quem crê de coração será justificado (Romanos 10.10). Embora seja uma cruz preta, que mortifica e que também deve causar dor, ela deixa o coração em sua cor natural. Ela não corrompe a natureza, isto, ela não mata, mas mantém vivo. “O justo viverá por fé” (Romanos 1.17), mas pela fé no Crucificado.
Tal coração deve estar no meio de uma rosa branca, para mostrar que a fé dá alegria, conforto e paz. Em outras palavras, ela coloca o crente em uma rosa branca, de alegria, pois esta fé não dá paz e alegria como o mundo dá (João 14.27). É por isso que a rosa deve ser branca, e não vermelha, pois o branco é a cor dos espíritos e dos anjos (conforme Mateus 28.3; João 20.12).
Tal rosa deve estar numa área de azul celeste, simbolizando que tal alegria em espírito e fé é o começo da futura alegria celestial, que já começa, mas é obtida em esperança, pois ainda não é revelada.
Ao redor dessa área está um círculo dourado, simbolizando que tal bênção no céu dura para sempre; é sem fim. Tal bênção vai além de toda a alegria e bens, assim como o ouro é o melhor metal, o mais valioso e precioso.
Este é o meu compendium theoligae [o sumário da teologia]…”
Essa explicação aparece em uma carta de Lutero enviada a Lazarus Spengler, datada de 8 de julho de 1530. Ela aparece em diversas fontes, como na Edição Weimar das Obras de Lutero (Briefe Vol. 5:444f) e na edição inglesa das obras de Lutero (Luther’s Works: American Edition, Vol. 49:356-359).
Autor: Pr. Vince Gehardy, da ALC (Austrália), tradução de Pr. Éder Carlos (Brasil)