O crime de Suzane na participação do assassinato dos pais na verdade nos apavora não contra uma violência de fora mas contra aquela que está dentro de nós. Uma sociedade que se refugia em casas super protegidas não percebe que a maior violência está dentro do lar, e pior, dentro do coração. O psiquiatra Carlos Carrion diz tudo sobre este crime do último dia 31 de outubro: “Cuidemos bem de nossos filhos, usemos as nossas forças para construir, pois talvez, distraídas aí, elas permitam que a fera continue a dormir. Mas não nos esqueçamos que vivemos sobre um Etna (vulcão) que sempre pode despertar. Em nós, em nossos filhos, em nossos amigos …” (ZH 12.11.2002). Jesus não quis dizer outra coisa quando afirmou que “é do coração que vêm os maus pensamentos que levam ao crime” (Mateus 15.19). Diz isto quando desmascara a hipocrisia dos judeus religiosos que haviam construído uma enorme muralha de leis para se protegerem contra a impureza moral dos outros, uma neurose puritana que desencadeou uma infinidade de regras morais concedendo direitos até para desrespeitar os próprios pais (Mateus 15.5,6).
Nunca faltaram meios supostamente capazes para subjugar a maldade humana e dominar seus temperamentos e inclinação ao caos moral. A maioria das religiões e filosofias tem um código que conduz seus seguidores para o caminho do bem. No entanto, usam uma estratégia que ataca o mal na superfície e não a raiz. Como fazem nos carros velhos tapeando a ferrugem debaixo de uma incrível pintura, esta é a mágica das religiões “que desprezam a mensagem de Deus para seguir os seus próprios ensinamentos” (Mateus 15.6). Pensam que podem neutralizar a natureza humana que “produz imoralidade, impureza, ações indecentes, adoração de ídolos, feitiçarias, inimizades, brigas, ciumeiras, acessos de raiva, ambição egoísta, desunião, paixão partidária, invejas, bebedeiras, farras e outras coisas parecidas com essas” (Gálatas 5.19-21).
Por nascer na iniqüidade e ser concebido no pecado (Salmo 51.5) e para não ser um filho sem juízo, tristeza para o pai e amargura para a mãe (Provérbios 17.25), convém reconhecer o diagnóstico de Jesus ao dizer que “é do coração que vêm os maus pensamentos que levam ao crime”. Este é primeiro passo para se crer que “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres” (Gálatas 5.1), e assim ser livre para produzir os frutos do Espírito Santo: “amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade e domínio próprio” (Gálatas 5.22,23). Esta transformação não é truque nem mágica. É simplesmente a ação divina que pode “transformar por meio de uma completa mudança das mentes” (Romanos 12.2), ou como Deus prometeu: “Eu lhes darei um coração novo e porei em vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra, desobediente, e lhes darei um coração humano, obediente. Porei o meu Espírito dentro de vocês” (Ezequiel 36.26,27). Esta é a única religião, a que poderosamente religa a criatura humana com seu Criador, libertando-o de Satanás.
Numa sociedade pós moderna que nem mais se preocupa em “tapear a ferrugem do carro” assumindo orgulhosamente sua condição imoral e criminosa (o que muitos consideram uma virtude contra a hipocrisia), não faltarão Suzanes para atestar as palavras de Jesus quando disse que nos últimos tempos “a maldade vai se espalhar de tal maneira, que o amor de muitos esfriará” (Mateus 24.12), e “os filhos ficarão contra os pais e os matarão” (Marcos 13.12). Enquanto isto cabe aos pais e filhos cristãos deixar que o Espírito, que lhes deu a vida, controle também a sua vida (Gálatas 5.25).
Pastor Marcos Schmidt
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Autor: Pr. Marcos Schmidt – marsch@terra.com.br