O 108o. Congresso provavelmente será o grupo de maior enfoque religioso na história recente. Ambas as casas do Congresso estão posicionando-se para agir sobre legislação que trata sobre tudo, desde verbas para escolas religiosas ao endosso de candidatos pelas igrejas. Desnecessário é falar que para muitos desses legisladores, a separação de Igreja e Estado não é uma prioridade.
Eles não estão sozinhos. O Pres. Bush recentemente emitiu uma ordem executiva preparando o terreno para que o seu programa de “iniciativas baseadas na fé” tome alento. Com essa ordem Bush torna dinheiro federal disponível para o uso por organizações religiosas. O presidente acredita que trazer juntos a fé e os dólares dos impostos pode curar muitas das feridas sociais da nossa nação.
Há mais. Com uma maioria republicana assentada em ambas as casas [Câmara de Desputados Federais e Senado] Bush terá pouco problema em obter os juízes que desejar. De fato, várias nomeações judiciais decididas pelo último Congresso já estão sendo re-submetidas pelo presidente. Dois desses juízes em particular se opõem à atual aplicação da lei em questões de Estado-Igreja.
É também provável que Bush terá oportunidade de nomear um ou dois juízes da Suprema Corte. Em vista de que muitos casos recentes envolvendo Igreja-Estado foram decididos por uma estreita margem de 5-4, um ou dois juízes poderiam facilmente fazer pender a balança do poder e reverter 50 anos de opinião judicial sobre questões de Estado-Igreja.
Muitos na comunidade cristã aplaudem esses esforços. Eles se porão de pé e exultarão se o muro de separação vier abaixo. Os adeptos desse grupo estão convencidos de que a presente postura de separação [entre Estado e Igreja] é um impedimento a que a América [ou seja, os Estados Unidos da América] alcance o seu destino como uma nação cristã.
Num passado não tão distante indivíduos como Dwigth Moody e Billy Graham criam que a melhor maneira de tornar os EUA uma nação cristã seria através de pregação persuasiva e testemunho pessoal. Criam eles que se a Igreja fosse fiel a sua missão, um “grande despertamento” finalmente varreria a nação como uma poderosa ventania, transformando as pessoas e instituições ao assim soprar.
Mas agora parece que essa metodologia foi abandonada. Esqueçam a persuasão e conversão. A estratégia agora apela a que evangélicos penetrem sua fé na cultura americana mediante uma dominação política das instituições governamentais. O cristianismo será imposto, não por uma escolha do coração, mas por força de lei.
Logicamente, tudo isso já foi tentado antes. João Calvino tentou instituir o cristianismo como governo civil em Genebra, Suíça, no século XVI. O que ele e seus seguidores descobriram é que enquanto é possível controlar por força o que as pessoas fazem e dizem, não é possível forçar a crença. No século XX a religião secular do marxismo descobriu a mesma coisa.
Investir nossa esperança nos símbolos e práticas de nossa fé é uma boa coisa. Cura e transformação podem e seguem o seu uso apropriado. Mas não podem ser forçadas. Não podemos esperar que o poder de Deus opere simplesmente porque aprovamos uma lei, edifiquemos um monumento, ou profiramos uma oração. Não é assim tão simples.
O esforço de impor a fé por meio da lei é um exemplo do que o Novo Testamento descreve como “apegar-se à forma exterior de santidade, mas negar o seu poder”. O poder de nossa fé para curar e transformar é possível somente quando as pessoas são capazes de abraçá-la livremente, sem coerção. Não opera de nenhum outro modo.
(*) Publicado em The Birmingham News, de 8-02-03.
Autor: Pr. James L. Evans, pastor da Igreja Batista de Crosscreek, em Pelham, Alabama.