Existe um lado um tanto traumático mas natural nesta relação da mãe com o filho. Sobretudo quando tal filho encontra a mãe dos filhos dele, e esta outra genitora torna-se carne de sua carne e osso dos seus ossos (Gênesis 2.23), acontecendo (ou devendo acontecer) o rompimento definitivo do cordão umbilical. Na verdade, é a mãe e não o pai que sofre na hora de cumprir-se com aquela ordem da criação divina: “É por isto que o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir com sua mulher e os dois se tornam uma só pessoa” (Gênesis 2.24). E se feliz foi Adão que não teve sogra, é porque muitas mães ainda não conseguiram superar definitivamente este trauma. Um problema que vai mais longe conforme já disse a escritora Raquel de Queiroz: “Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais”.
Na verdade nós homens nunca vamos entender o que se passa com as mulheres. Depois de ficarem nove meses enjoadas, sofrerem um misto de medo, alegria e dor na hora do parto, precisam ainda seguir pelo martírio de uma profunda depressão – aí pode estar o princípio deste trauma no rompimento definitivo do elo maternal. E se nós, os machões que fogem ou desmaiam na hora do parto, não conseguimos mesmo entender as mulheres, parece que elas também não conseguem. Pois quem explica esta disputa entre sogra e nora? Quem sabe venha ser uma certa revolta, um desabafo contra este princípio natural do corte do cordão umbilical que faz perder um filho para nascer uma nova família.
De certa forma o segundo Domingo de maio faz com que tais obscuros sentimentos familiares subam à tona nas consciências perturbando nosso sossego. E este dia das mães não deixa de ser uma tentativa até meio sem graça e forçada com gestos que deveriam ser casuais, uma forma de compensar nossa falta de sensibilidade e compreensão. Por isto já dizia a Bíblia: “nunca esqueça o que a sua mãe ensinou e não despreze a sua mãe quando ela envelhecer” (Provérbios 6.20 e 23.22).
E por falar de trauma maternal, Maria nunca deve ter esquecido as palavras de Jesus: – quem é a minha mãe? Veja, aqui está a minha mãe!” (Mateus 12.48,49). Referindo-se aos seus discípulos, o Salvador coloca a mãe dele no devido lugar como sogra da igreja para que assim ele pudesse livremente cumprir a missão de amar a igreja e entregar a sua vida por ela (Efésios 5.25). Não foi fácil para Maria, mas ela compreendeu o recado, e no final recebeu o carinho de seu filho, quando este, antes de morrer na cruz, garantiu-lhe a previdência de João (João 19.26).
Mas este aspecto traumático na relação maternal oferece um grande ensinamento. Ou como diz a Bíblia: “Será que uma mulher dá à luz antes de sentir dores de parto” (Isaías 66.7). Se a recompensa maternal é fruto do sofrimento, as outras conquistas da vida somente surgem pelo mesmo caminho. E pensando bem, nada neste mundo de dores e lágrimas fica eternamente em nossos braços. Bem disse Jó quando perdeu os dez filhos: “Nasci nu, sem nada, e sem nada vou morrer. O Deus Eterno deu, o Deus Eterno tirou; louvado seja o seu nome” (Jó 1.21).
Por todo este sofrimento, está certo quem disse que mãe só tem uma, e às vezes não é aquela que nos gerou. E para aliviar aquela que tanto nos aliviou, então que outros dias sejam dedicados a elas. Por isto bem disse o poeta sacro:
Mãe, sublime dom! Glória a Deus rendemos hoje em profusão, pois de ti sabemos que Jesus sofreu e por nós morreu.
Mãe, sublime dom! Enches de alegria nosso coração neste lindo dia. Foste para nós a celeste voz.
Mãe, sublime dom! Queiras com carinho dar ao filho a mão, guiando-o no caminho do Senhor Jesus, rumo à eterna luz.
Mãe, sublime dom! Sempre em nossa vida toda a gratidão seja a Deus rendida, pois da mãe o amor, ele é o doador.
Autor: Pr. Marcos Schmidt – marsch@terra.com.br