João Batista foi um homem sem sucesso. Já começando pela maneira como se vestia: usava roupa de pêlos de camelo e um cinto de couro. E pior, comia gafanhotos e mel do campo. Escolheu o pior lugar para montar o seu negócio: o deserto da Judéia. E a propaganda não era nada simpática: – “arrependam-se dos seus pecados porque o reino do céu está perto” (Mateus 3). O final da história deste cara esquisito e destinado ao fracasso é digno do pior filme de terror: sua cabeça foi servida num prato. E tudo por causa de uma dança sensual tipo “é o tchan” (Mateus 14.11). Quem sabe é por isto que hoje dizem: “ele dançou”. Resumindo, teve uma vida curta, sofrida, infeliz e vergonhosa. A bem da verdade, teve o que procurou. Mas será mesmo?
João Batista é uma pedra incômoda no caminho de qualquer um. Seu jeito, suas palavras, sua vida … É inoportuno, chato, ridículo, fora de contexto. É um “João ninguém” que se mete na vida dos outros, até de gente grande. Se mete na vida dos Herodes e Herodias que tentam levar tudo numa boa sem medo de ser feliz. Afinal, quem é ele pra dizer que isto ou aquilo é pecado? Quem ele pensa que é? Ficar falando por aí para se arrepender e mudar de rumo? É um estraga prazeres, isto é o que ele é! Um intrometido. Teve um fim bem merecido. Se tivesse ficado quieto, tudo seria diferente para ele. Mas será mesmo?
Uma referência da vida de João lembra que as coisas não são bem assim. “Eu afirmo”, diz Jesus, “que vocês viram muito mais que um profeta …João Batista é o maior de todos os homens do passado” (Mateus 11.9,11). O que acontece mesmo é que Deus não só devolve a cabeça de João, mas também sua boca, sua voz, sua mensagem, e coloca uma coroa sobre ela conferindo a dignidade e a excelência do sucesso. E agora esta voz ressuscitada ecoa em todos os lugares onde existe cabeça e corpo. Um grito que diz: – vocês aí neste mundo de negócios, de metas, de conquistas, preparem-se, porque Deus vai voltar (Mateus 25.31).
A intromissão de Batista, queira ou não, é uma espada que põe a nossa cabeça na bandeja de Deus. É o único jeito para depois ser colada num corpo com vida. Um transplante milagroso. Uma navalha pretensiosa do Advento que sai para fora e segue no deserto dos escritórios, lojas, bancos, supermercados, praças, escolas, lares etc. Afinal, é no deserto que se esquece que Cristo “é a cabeça do corpo… a origem da vida do corpo” (Colossenses 1.18).
Por isto, a voz que clama no deserto sempre quer incomodar. Caso contrário deixa de ser a voz de Batista e passa a ser a de Herodes – que vai conforme a dança. Advento tem este efeito num Natal que vem chegando enfeitado e escondido nos presentes. Se ele estiver chateando, então ótimo, porque o reino de Deus já começou a chegar. E daí, somente daí, este homem intrometido se cala para se ouvir a voz de Jesus.
Assim, João Batista milagrosamente passa a ser um homem de sucesso. Porque ele conseguiu preparar o caminho.
Autor: Pastor Marcos Schmidt (marsch@terra.com.br)