Uma Cidade Chamada ZICLAGUE

“Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens ao terceiro dia a Ziclague, os amalequitas tinham feito uma incursão sobre o Negebe, e sobre Ziclague, e tinham ferido a Ziclague e a tinham queimado a fogo; e tinham levado cativas as mulheres, e todos os que estavam nela, tanto pequenos como grandes; a ninguém, porém, mataram, tão-somente os levaram consigo, e foram o seu caminho.
Quando Davi e os seus homens chegaram à cidade, eis que estava queimada a fogo, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas tinham sido levados cativos. Então Davi e o povo que se achava com ele alçaram a sua voz, e choraram, até que não ouve neles mais forças para chorar” I SAMUEL 30: 1-4.

Ziclague era uma cidade pertencente à herança da tribo de Judá (Js 15:31), localizada no extremo sul de Israel (Js 15:21), que estava anexada ao território dos Filisteus (I Sm 27:06) até o dia em que foi dada a Davi.

Não sou especialista em teologia, grego, hebraico, aramaico, escatologia, etc. Mas realmente creio que a cidade de Ziclague tem muito que nos ensinar sobre Louvor & Adoração.
Foi em Ziclague que Davi chegou ao mais BAIXO nível moral e espiritual de sua vida.
“Davi e os seus homens subiam e davam sobre os gesuritas, e os girzitas, e os amalequitas; pois, desde tempos remotos, eram estes os moradores da terra que se estende na direção de Sur até a terra do Egito. E Davi feria aquela terra, não deixando com vida nem homem nem mulher; e, tomando ovelhas, bois, jumentos, camelos e vestuários, voltava, e vinha a Áquis. E quando Áquis perguntava: Sobre que parte fizestes incursão hoje? Davi respondia: Sobre o Negebe de Judá; ou: Sobre o Negebe dos jerameelitas; ou: Sobre o Negebe dos queneus. E Davi não deixava com vida nem homem nem mulher para trazê-los a Gate, pois dizia: Para que porventura não nos denunciem, dizendo: Assim fez Davi.
E este era o seu costume por todos os dias que habitou na terra dos filisteus”.
I Samuel 27: 8-11.

Ziclague levou Davi ao “fundo do poço”, o grande rei judeu, se tornou na verdade um mentiroso e homicida. Davi era um homem totalmente cego, intolerante, desumano e finalmente DESTITUIDO DA PRESENÇA DE DEUS.

Temos muitas Ziclagues em nossos dias, se perguntasse, a maioria de nossos Lideres Musicais e membros de nossos Ministérios Musicais, têm infelizmente alguma característica que levou Davi há decadência moral de sua vida.
Sou altamente qualificado para falar em decadências; já que passei por quase todas elas, conjugal, ministerial, existencial, etc, etc, etc…

Vivemos em uma época em que os resultados rápidos e práticos são altamente valorizados, Fast Food é a palavra mais difundida em nossos dias. Apesar desta palavra não fazer parte do vocabulário dos dias de Davi (pelo menos acho que não), esse foi o maior erro de sua vida, ele se viu numa situação em que a única saída era a negação de todos os seus princípios, já tinha fugido por anos e anos, já estivera em quase todos os esconderijos possíveis de Israel, e tinha usado quase todas estratégias de fuga em massa que conhecia.
Então Davi tomou uma decisão Fast Food:
“Chega! Desisto! Cansei! Sei que estou certo, sei que tenho a razão, mas não posso mais continuar. Logo Saul me alcançara e me matará”. Foi isso que Davi disse no verso 1 do capítulo 27 do livro de I Samuel.
Não devemos recriminar Davi, afinal achamos que sabemos o que fazer numa situação desta, você pode dizer: “Davi tinha apenas que se abrigar debaixo das asas do Pai todo poderoso e esperar”.
Mas em todas as vezes que estive neste tipo de situação, vivi na pele o que Corrie Tem Boom diz com grande propriedade: “Quando você se abriga debaixo das Suas asas, pode ficar bem escuro”.

Nossos ministérios têm passado por uma “revolução” que, muitas vezes, não é bem definida em seus propósitos.
Temos em mente o objetivo, mas não conseguimos visualizar o caminho que temos que percorrer para alcança-los. Todos sabemos das promessas de Deus para a vida daqueles que O buscam (Mt 7:7; Mt 11:29), mas temos medo de deixarmos nossa vida e ministérios nas mãos Dele, pois normalmente não sabemos qual será seu próximo passo.

Venho de um estado que tem vegetação até no nome, Mato Grosso, mas foi em São Paulo com um americano, que aprendi uma lição surpreendente sobre a natureza.
“Existe na China um Bambu que é um fenômeno mundial em crescimento, você planta, põe água e fertilizante, todos os dias. Você não vê nenhuma mudança considerável no crescimento da planta. Durante cerca de cinco anos, às vezes até mais, não acontece nada, absolutamente nada. Até que!!! Num período de seis semanas o bambu cresce cerca de trinta metros. Conta-se de um bambu que cresceu sete metros em 24 horas. O incrível é que a planta fica aparentemente morta por anos, e de repente tem um crescimento fantástico” Rick Warren (paráfrase minha).

Deus tem tratado muitos de nossos ministérios musicais desta forma, Ele está agindo em suas vidas e moldando seus valores. Mas nossa pressa de Fast Foods acaba atrapalhando Seus planos.

Amo o que Ron Mehl nos ensina: “Deus pode parecer lento, mas nunca se atrasa”.

Pena que Davi não quis esperar e decidiu tomar uma decisão Fast, poderia ter poupado muito sangue e dor. Preferiu chegar a Ziclague da forma errada.

Foi em Ziclague que Davi chegou ao mais ALTO nível moral e espiritual de sua vida.
“Também Davi se angustiou; pois o povo falava em apedrejá-lo, porquanto a alma de todo o povo estava amargurada por causa de seus filhos e de suas filhas. Mas Davi se fortaleceu no Senhor seu Deus”. I Sm 30:6.
No meio do caos que se tornou à vida de Davi (I Sm 30:01), Deus simplesmente começou a “revolução” necessária em sua vida.

“As tempestades pessoais revelam muito sobre o nosso homem interior, talvez até mais do que gostaríamos de revelar” Ron Mehl.
Gosto da idéia de que muitos de nossos ministérios têm se transformado nas Ziclagues dos nossos dias, esta cidade, por algum motivo, tem o “poder” de trazer o bem e o mal de nossas vidas.
Ziclague é um paradoxo, foi nela que Davi experimentou a dor da maldição, como também a alegria da salvação. Também foi nesta cidade que Deus nos dá uma das maiores experiências e lição de EVANGELISMO E RESTAURAÇÃO da história.
Muitos de nossos Líderes gostariam de ter em seus ministérios homens totalmente restaurados e aptos para o serviço. Deus nos ensina como fazer isso, Ele simplesmente transformou um potencial fracasso em um Rei; Talvez o maior Rei da história de Israel.

Deus restabeleceu três áreas na vida de Davi que tinham sido perdidas totalmente em Ziclague.
Foi restabelecido o RELACIONAMENTO de Davi para com sua Fé:
“Então disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. Abiatar trouxe a estola sacerdotal a Davi” I Sm 30:07.
Fé e responsabilidade são sinônimos nesta questão, Deus simplesmente fez com que Davi lembrasse de suas obrigações.
O rei, na época, era a única pessoa para quem o sumo sacerdote teria de dar satisfação de seus atos, Davi era o rei (pelo menos tinha a promessa) e a estola sacerdotal – que significava: autoridade, compromisso, amor – acompanhava o rei, e Davi não a tinha mais. Chegou numa condição tal que precisou mandar busca-la, não por uma forma de ritual, mas sim porque estava afastado de tal forma dos caminhos, que a única saída seria buscar o que estava perdido.

“Muitos dos que buscam Jesus se decepcionam quando descobrem que ele não se acha na sede de sua denominação. O próprio Jesus disse a Pilatos: O meu reino não é deste mundo (Jo 18:36). Se quiser encontrar o verdadeiro objeto de sua afeição, o adorador não deverá procurá-lo junto às autoridades eclesiásticas, pois o Rei não se acha num palácio terreno” Judson Cornwall.
Davi teve de ter um novo encontro com o Deus, pois não importava qual fosse o palácio que Davi tivesse construído em Ziclague, Deus não se achava nele, e Ziclague não podia oferecer.
Muitos de nossos líderes musicais de hoje não possuem mais suas “estolas”, são líderes que ainda estão numa era de guerra e fuga, assim como Davi quando chegou a Ziclague.
Esperam que esta cidade possa resolver seus problemas, e lutas, que pena que ainda não descobriram que Ziclague só pode ser uma benção quando Deus esta presente.

Se quisermos ter músicos completamente envolvidos com o ministério local, temos que ensina-los quem é o motivo de nossa adoração e o motivo de nossa fé.
Fé não nasce em árvores, nem se consegue compra-la em um açougue, é dom gratuito de Deus. Temos que ensinar nossos músicos há buscarem e exercitarem sua Fé.

Foi restabelecido o CONTATO de Davi para com seu Deus:
“E consultou Davi ao Senhor: Perseguirei eu a esta tropa? Alcançá-la-ei? Respondeu-lhe o Senhor: Persegue-a de certo alcançarás, e tudo libertarás” I Sm 30:08.

O contato de Davi para com Deus me choca.
Como pode ser tão fácil depois de anos de ausência?
Davi estava em Ziclague há mais de um ano, não lemos em momento algum, Davi pedindo algo para Deus até este ponto. Davi achava-se em um estado de total auto-suficiência, mas de repente, quando Davi precisa de Deus; Ele esta lá. Deus esta presente bem do lado dele, para orientá-lo.
Não vemos Deus falando para Davi: “Hei! Agora você vem me procurar??? Chegou tarde caro colega”. Deus simplesmente dá a resposta pedida, sem sermões, sem mágoas, sem rancores, simplesmente responde a pergunta feita por Davi.

Nossos Líderes Musicais deveriam com certeza seguir este ensinamento divino.
Porquê muitos de nossos líderes ficam anotando ou memorizando os erros de seus liderados, para que depois possam ter a “prova” numa possível acusação ou questionamento?
Porquê nossos Líderes não ensinam seus músicos para que o erro não possa se tornar costumeiro? Sem sermões, sem cerimônias, somente com amor?

Precisamos de Líderes Musicais que fiquem ao lado dos homens e mulheres que temos em nossos ministérios, pessoas, como Davi, que se tornarão grandes reis, mas que hoje estão lutando para que em Ziclague o lado bom de seu caráter possa fluir.

Foi restabelecido o CHAMADO de Davi para com seu Ministério:
“Quando Davi chegou a Ziclague enviou do despojo presente aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis aí para vós um presente do despojo dos inimigos do Senhor”. I Sm 30:26.
O objetivo de nossas vidas muitas vezes pode se tornar um fardo, conheço pessoas que seus ministérios tomavam tanta energia deles, que a única solução que encontraram foi à murmuração e a desistência.

Lembro-me de um profeta que passou por algo parecido: Habacuque.
Habacuque vivia numa situação de total desespero, era o responsável pela “palavra de Deus” a um povo totalmente corrompido pelo exílio babilônico. O povo já não se voltava ao Pai para encontrar livramento, e certamente não considerava mais as leis divinas.
“Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não escutarás? ou gritarei a ti: Violência! e não salvarás? Por que razão me faz ver a iniqüidade, e a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há também contendas, e o litígio é suscitado. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, de sorte que a justiça é pervertida” Habacuque 1:2-4.

Habacuque certamente viveu sua Ziclague, viveu seus dias de angustias e medo, não via nada além de pecados, transgressões, culpas e injustiças.
Quantas vezes ao nos depararmos com nossos ministérios musicais temos há mesma visão do profeta. Vemos tantos erros que acabamos nos acostumando com eles, ou simplesmente nos queixamos deles. Temos a pretensão de deixamos que o tempo possa tratar de tudo para nós, afinal não queremos nos indispor com todos.
Faço minha as palavra de Ron Mehl: Será que o tempo pode curar tudo? O tempo conserta uma lâmpada queimada? Uma janela quebrada ou pneu furado? Absolutamente não. Espere até envelhecer e o ar frio ainda vai entrar pela vidraça quebrada. Ande com o pneu furado por algum tempo e a roda vai entortar. Adiar concertos não resolve nada. Nem o tempo cura os pecados de nosso passado, ou remove os fardos de culpa e vergonha. Eles precisam ser tratados.
Ziclague é muito importante para o crescimento de nosso chamado, esta cidade foi o palco com que Davi teve de se confrontar, Deus preparou cada pedaço deste cenário, e Ele fará que nós também sejamos confrontados conosco mesmo. Nosso chamado requer confronto. O desejo do Mensageiro não é causar conflito, mas a verdade trazida por Ele, por si mesma gera o confronto.

De sua Ziclague Habacuque teve uns dos maiores e mais lindos diálogos com Deus de toda nossa história, ele simplesmente não conseguia entender como Deus podia usar um povo mais pecador para afligi-los.
Habacuque descobriu algo fantástico em seu ministério, e fez questão de escreve-lo para que hoje pudéssemos aproveitar suas descobertas.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado, todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é minha força, ele fará os meus pés como os da corça, e me fará andar sobre os meus lugares altos” Habacuque 3: 7-19.
Note, à descoberta de Habacuque: “O Senhor Deus é minha força, ele fará os meus pés como os da corça, e me fará andar sobre os meus lugares altos”.
Fico pensando se eu teria condições de dizer algo assim depois de ver a imagem descrita por Habacuque. Talvez você esteja pensando: “Mas Habacuque descreveu meu ministério musical”, se realmente você pensa isso, peço-lhe que também pense: “O Senhor meu Deus é minha força”.

Sempre me questionei sobre o porquê da presença de Ziclague na vida de Davi, e também como ela foi importante para o crescimento de seu Chamado. Como Habacuque me intrigo com os mistérios que Deus se utiliza para nos fazer semelhante a Ele.
Mas aprendi com um de meus amigos e irmão, algo que me fez enxergar este importante mistério Divino, creio que também responda a pergunta de vários Líderes Musicais de nossos dias.
Por quê precisamos ir a Ziclague?
Como saberei que Ele é minha Fortaleza até que corra com todas minhas forças para Seus portões abertos, com as flechas voando em todas as direções ao meu redor?
Como saberei que Ele é meu Esconderijo até que ouça os passos do inimigo por trás de mim, o seu fôlego no meu pescoço, e clame por um refúgio?
Como saberei que Ele é minha Porção até que tudo que prezo e amo sejam subitamente ameaçado ou tirado de mim?
Como saberei que Ele é meu Pai até que me sinta órfão, desamparado e solitário na tempestade?
Como saberei que Ele é meu Libertador até que me veja no meio do mar sendo sugado pelas águas para a morte certa, e veja a mão de um certo Carpinteiro me ajudando a sair das águas e voltar para o barco de maneira segura?
Ron Mehl

Creio que Habacuque se contentaria com esta resposta. E você?

jesuino23@terra.com.br

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn
[adinserter block="4"]

Sumário

[adinserter block="5"]

Artigos Relacionados