Violência contra os filhos

Conforme campanha da RBS, os monstros que amedrontam as crianças não são o Bicho-Papão, o Boi-da-Cara-Preta, a Mula-sem-Cabeça, a Bruxa Má e o Diabo (este último não deveria estar junto com estes personagens lendários) mas a violência contra os filhos dentro do próprio lar. No entanto quando o assunto é aprofundado, a lista destes outros monstros aumenta assustadoramente. Porque os maus tratos físicos e abusos sexuais nas crianças e adolescentes de certa forma podem ser comprovados e até reprimidos. Mas as violências espiritual, psicológica, moral e ética ficam acobertadas por culpa de uma sociedade que há tempo já perdeu a competência pela guarda de seus filhos.

Quando a Bíblia diz aos pais para não tratarem seus filhos de tal maneira que fiquem irritados (Efésios 6.4), não está recomendando mas exigindo. Isto porque “os filhos são uma herança do Deus Eterno” (Salmo 127.3) e também disto devem prestação de contas ao Criador. Mas já que não reconhecem Deus como o dono de tudo, é claro que estes pais usurpadores vão apoderar-se também dos filhos transformando-os em meros instrumentos de suas conquistas egoístas e mesquinhas. E assim, onde o amor de muitos está esfriando (Mateus 24.12), as cenas de violência doméstica contra os filhos se tornarão comuns em lugar do lar doce lar.

De certa forma é ridícula tal campanha. Não ela em si, mas a necessidade dela. Porque violência nas ruas, no trânsito, nas escolas, fora de casa, isto já não causa perplexidade. Mas quando chegamos a tal ponto – na necessidade de conscientizar as pessoas para não maltratarem seus filhos, então o mundo está mesmo perdido. Por isto, coitadas das crianças que em lugar de proteção recebem de seus pais violência.

Conforme reportagem na Zero Hora (08/06/2003), um serviço mantido pela Universidade Luterana do Brasil tratou de 1.101 crianças com casos de violência e abuso sexual, isto só na área da grande Porto Alegre num período de dez meses. Diz a reportagem que “o que angustia os médicos é detectar vestígios da brutalidade enrustida. São nenês forçados a engolir leite azedo, crianças humilhadas por insultos, vítimas de confinamento, pobremente alimentadas, aterrorizadas onde deveriam estar felizes”. Se estes casos são apenas uma pequena amostra daquilo que fica “debaixo do tapete da própria família”, então o que dizer da violência que começa já no ventre materno, quando milhares de crianças são assassinadas, vítimas de aborto voluntário?

Mas a campanha deste influente veículo de comunicação merece todo o apoio também por parte das igrejas cristãs. Isto porque o slogan O amor é a melhor herança – Cuide das crianças é o próprio lema das Sagradas Escrituras quando os pequeninos estão no assunto. Aquela imagem bíblica de Jesus abraçando e abençoando as crianças cala fundo nas consciências dos adultos que as amaldiçoam grosseira ou disfarçadamente. Ao serem impedidas porque estavam “incomodando” Jesus, a resposta do Salvador deveria ser o primeiro e grande mandamento aos pais neste contexto da violência: “deixem que as crianças venham a mim e não as proíbam” (Mateus 19.14). Assim vemos que a violência não acontece apenas quando o mal é praticado, mas sobretudo quando o bem é proibido. Por isto, impedir que uma criança tenha o amor de Jesus é sem dúvida a pior monstruosidade. E aqui o Diabo (que não é nenhuma lenda conforme a campanha sugere) torna-se o grande malfeitor.

Na verdade os terríveis danos que os maus tratos paternos provocam nos filhos vão além dos físicos e psicológicos. Porque na função de sacerdote do lar e representante do Pai celestial, o pai carrasco (ou mãe) faz o filho achar que Deus é igual. Por isto, se o amor é a melhor herança e o cuidado das crianças uma obrigação, uma lástima que isto tenha se transformado em tema de campanha.

Autor: Marcos Schmidt – marsch@terra.com.br

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